Dias atrás, ouvi uma frase que me deixou pensativa. Em meio a uma conversa sobre negócios, alguém comentou que havia conhecido uma consultora de varejo e marcas muito experiente, mas que já tinha tido duas lojas em shoppings que "quebraram". E então soltou, com um certo desdém: “Como confiar em alguém que quebrou?”
Aquilo ficou reverberando em mim. Porque essa fala, que aparentemente é lógica e objetiva, carrega uma visão extremamente superficial do que é empreender — e de quem são, de fato, os profissionais que fazem diferença no mercado.
A ideia de que só quem nunca errou é digno de ensinar é perigosa, irreal e injusta. Os maiores nomes do empreendedorismo mundial — os que hoje assinam grandes marcas, acumulam fortunas e sobem ao palco para palestrar — também quebraram. Steve Jobs foi demitido da própria empresa. Walt Disney faliu antes de fundar seu império. Henry Ford abriu duas fábricas que não deram certo antes da famosa Ford Motor Company. E no Brasil, nomes como Abílio Diniz, Luiza Trajano e Ricardo Bellino também enfrentaram momentos difíceis — mas seguiram, aprenderam e construíram histórias sólidas.
Eu mesma já vivi algo semelhante. Durante um período da minha vida, tive uma loja em shopping center. Não cheguei a “quebrar”, no sentido clássico da palavra. Mas o negócio não estava indo bem. O faturamento não sustentava mais os custos. A conta não fechava. E, com muita dor, mas também com responsabilidade e coragem, eu tomei a decisão de encerrar as atividades.
Foi uma escolha difícil. Me exigiu humildade, resiliência e, principalmente, olhar estratégico. Porque encerrar também é uma decisão de gestão. E foi ali que aprendi lições que nenhum curso ou teoria me ensinaria. Hoje, levo essa vivência para cada cliente, cada projeto e cada orientação que dou. Porque sei exatamente o que acontece por trás do balcão — e sei também que existe vida (e sucesso!) depois de um encerramento.
Errar faz parte do processo. E mais do que isso: errar com consciência, refletir, entender o que deu errado e transformar a experiência em aprendizado é um sinal de maturidade e evolução. Uma pessoa que já esteve dos dois lados — do sucesso e do fracasso — tem um olhar mais completo sobre o negócio. Ela conhece o caminho, os atalhos e, principalmente, os buracos.
No varejo, então, isso é ainda mais real. Empreender em loja física, em shopping, em mercados tão voláteis como o que vivemos no Brasil, exige coragem. E quem se expõe ao risco sabe que nem sempre as contas fecham, que imprevistos acontecem e que, por mais competente que alguém seja, nem tudo está sob nosso controle.
Essa coluna é um convite à reflexão: você tem olhado o erro como uma falha ou como uma etapa do processo? E mais — tem valorizado profissionais que se reinventaram ou ainda julga a trajetória dos outros por momentos isolados?
No empreendedorismo, vencer é maravilhoso. Mas saber recomeçar é o que separa os sonhadores dos realizadores.
Camile Teixeira é publicitária, especialista em marketing e comunicação estratégica, com mais de 25 anos de experiência no mercado. Nesta coluna, compartilha reflexões e ideias práticas sobre marketing, varejo, empreendedorismo e produtividade.
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