São Paulo — A regulamentação do mercado de carbono no Brasil pela Lei nº 15.042/2024 consolidou um ambiente propício para que o agronegócio participe ativamente da nova economia verde. Embora o mercado exija critérios técnicos, fundiários e ambientais rigorosos, produtores rurais de pequeno e médio porte vêm encontrando nas cooperativas e arranjos coletivos uma alternativa viável para acessar essa oportunidade de forma segura e estruturada.
Segundo Luiz Candido Junqueira Franco Filho, especialista em prospecção da Carbonext, “muitos produtores com áreas entre 4 mil e 20 mil hectares não conseguem individualmente atender aos requisitos mínimos de área, mas, ao se unirem em consórcios regionais ou cooperativas, tornam-se aptos a participar de projetos coletivos, com viabilidade técnica e retorno econômico.”
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Projeto Ybyrá: exemplo de cooperação na Amazônia paraense
Localizado no município de Paragominas, no estado do Pará, o Projeto Ybyrá é um exemplo de como a união de pequenos e médios produtores pode viabilizar a geração de créditos de carbono em áreas estratégicas. Desenvolvido pela Carbonext e certificado internacionalmente pela Verra, o projeto abrange 76.481 hectares de floresta nativa preservada e envolve mais de 40 proprietários rurais, que se juntaram para atuar de forma cooperada e evitar o desmatamento de suas áreas. Daí resultou a Coopercarbon, primeira cooperativa de crédito de carbono do Brasil.
A iniciativa se localiza no chamado Arco do Desmatamento, uma das regiões com maior pressão de devastação florestal no Brasil. O projeto atende plenamente ao critério de adicionalidade, ou seja, comprova que a preservação só foi possível graças ao incentivo financeiro gerado pela venda dos créditos de carbono. Além disso, o Ybyrá promove benefícios sociais e ambientais para a região, fortalecendo cadeias produtivas sustentáveis e a governança local.
Como funciona na prática
Para viabilizar um projeto coletivo, os produtores participantes devem atender a requisitos comuns: documentação fundiária e ambiental em dia, histórico de desmatamento que comprove a ameaça real à área preservada (adicionalidade), e localização em biomas estratégicos como a Amazônia ou o Cerrado. A certificação por entidades como a Verra é fundamental, pois assegura que os créditos gerados sejam reconhecidos internacionalmente.
O processo de estruturação, auditoria e certificação pode levar mais de dois anos. No entanto, uma vez emitidos, os créditos acumulados desde o início da vigência do projeto podem ser comercializados, garantindo retorno financeiro proporcional ao tamanho da área de cada produtor participante. Além disso, a formação de arranjos coletivos permite diluir custos operacionais, fortalecer a governança e ampliar a inclusão de produtores na agenda de conservação.
Mercado em expansão
De acordo com a BloombergNEF (BNEF), o preço médio dos créditos de carbono pode aumentar mais de 35% até 2030, refletindo a crescente demanda global por ativos ambientais de alta integridade. Para produtores rurais que já mantêm áreas de reserva legal ou adotam práticas de conservação, essa é uma oportunidade concreta de transformar a preservação em renda, com retorno anual, previsível e crescente.
Gabriel Buzzo, diretor de Prospecção e Operações Florestais da Carbonext, complementa: “É fundamental organizar pequenos produtores em grupos estruturados e garantir a regularização fundiária para que esses projetos avancem com integridade e escala. Temos visto isso funcionar com sucesso em projetos que reúnem dezenas de produtores”.
Contudo, dada a complexidade técnica e regulatória do mercado, especialistas reforçam a importância de se contar com desenvolvedores experientes, que atuem desde a análise de viabilidade até a comercialização dos créditos. Com mais de uma década de atuação, a Carbonext já remunera centenas de proprietários de terra por meio de projetos REDD+ na Amazônia Legal, com foco na preservação de florestas e no desenvolvimento socioeconômico de comunidades locais.
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