Na manhã dessa segunda-feira foi anunciado o desligamento do técnico Tite, e toda sua comissão técnica, do comando do Flamengo. Após a eliminação para o Peñarol na Libertadores, da campanha irregular no Brasileirão e mesmo com a vaga na semifinal da Copa do Brasil, o ex treinador da Seleção Brasileira deixou o comando do time da Gávea, e nesse texto vou analisar os motivos e motivações por trás da demissão do treinador.
Tite assumiu o Flamengo, ainda em 2023, após a saída de Jorge Sampaoli, tendo como ponto final a perda do título da Copa do Brasil na final contra o São Paulo.
De lá para cá o treinador melhorou o time em muitos aspectos. Com o técnico argentino, e mesmo antes com o português Victor Pereira, o Flamengo sofria muito com instabilidade defensiva. Apesar de ter bons zagueiros, como o veloz Fabrício Bruno e o técnico Léo Pereira, o sistema defensivo do time era sempre criticado por público e imprensa.
Tite usou, em quase todo seu tempo no Rio, um lateral mais marcador, o uruguaio Varella, e outro mais atacante, Ayrton Lucas. Além disso fixou o chileno Pulgar, que nunca foi primeiro volante, na posição à frente da zaga.
Dessa forma, ele estabilizou o time e parou de tomar tantos gols. Além disso impôs seu jogo de toque de bola, que desde os tempos de Grêmio eu acompanho, onde faz com que o time seja menos agredido pelo adversário, já que como diz o treinador espanhol José Guardiola "quanto mais tempo você fica com a bola menos seu oponente te ataca".
E assim ele conseguiu vencer esse que era o maior dos desafios.
Contudo, ainda faltava fazer o time funcionar dentro de sua metodologia de trabalho, e tendo um jogador como Pedro, um pivô que ainda tem habilidade dentro da área, e dois "solistas" como De Arrascaeta e Éverton Cebolinha, o treinador deu ares de recuperação ao time rubro-negro. Dentro do Cariocão 2024 foi campeão, vencendo o Nova Iguaçu na final, e tomando pouquíssimos gols na competição.
Porém a vida do técnico no Rio não foi somente de glórias. Apesar de um bom começo no Brasileirão, na Libertadores e passando de fases na Copa do Brasil, parte da torcida e da imprensa sempre demonstrou uma má vontade com o trabalho do treinador, possivelmente ainda fruto dos dois fracassos nas Copas do Mundo de 18 e 22.
Porém não devemos esquecer que Tite sofreu também com situações que fugiam ao controle do profissional.
Jogadores como Pedro, Luiz Araújo e Cebolinha (três titulares do ataque flamenguista) estão a um longo tempo, afastados. Além disso De La Cruz, De Arrascaeta, Varella, Viña e Pulgar ficaram um logo tempo fora do time em função da não paralisação do campeonato Brasileiro durante a Copa América. De La Cruz, inclusive, sofreu contusão e voltou, sem ritmo de jogo, exatamente nos jogos decisivos contra o Peñarol.
Também tivemos a polêmica envolvendo Gabriel Barbosa e o episódio da "camisa do Corinthians" que fez o atacante perder a camisa 10 do time e a confiança do treinador. Junte isso tudo a contratação de um centroavante, para ser o substituto de Pedro, ainda sem experiência em time grande e as contratações de dois jogadores (Plata e Alcaráz) que juntos dariam o preço de um centroavante do mesmo nível do Pedro, e temos um cenário caótico para torcida e treinador.
E num momento delicado como esse é muito mais fácil torcida e diretoria colocarem sobre os ombros do treinador a culpa das derrotas do que de jogadores que passam um jogo inteiro sem chutar uma bola na direção do gol, como aconteceu no segundo jogo do confronto contra o Peñarol.
A saída de Tite deu a Felipe Luís sua primeira chance como treinador do profissional. O ex-lateral esquerdo, da Seleção Brasileira, do Atlético de Madrid e do próprio Flamengo, deixa o sub-20, onde foi campeão do Intercontinental, vencendo o Olimpiakos na final, para comandar o time principal onde até o ano passado ele vestia a camisa 16.
Ainda como interino, o maior desafio do treinador será superar sua inexperiência no profissional, como técnico, e tentar a passagem pelo Corinthians visando a final da Copa do Brasil.
Mas antes vale a reflexão sobre o trabalho anterior e o que ficou de bom que possa ser aproveitado pelo novo treinador, além de imprensa e torcida perceberem o tamanho da má vontade contra o treinador gaúcho no Flamengo.